segunda-feira, 26 de março de 2007

Descriminaliza Já!

Até uns 35 anos atrás eu morava no Chile. A maconha era plantada livremente pelos camponeses, que usavam os troncos da planta para manufaturar cordas, cestas, tapetes e outros utensílios. As sementes eram vendidas em qualquer venda ou mercadinho, sendo usadas para dar a passarinhos, especialmente os cantores, como canários. A folharada era devolvida à terra como adubo verde. Naquele tempo, as solas das alpargatas eram feitas desse cánhamo (bah, tchê).
Nos começos dos anos 70, no governo socialista de Salvador Allende, a maconha ainda nem era considerada legalmente como uma droga. Lembro de estatísticas daqueles anos: a maior parte da população havia experimentado e a metade até 30 anos estava usando. Sem problemas...
O governo popular estava em vias de aprovar uma lei que dava opção ao usuário (de qualquer droga) de se internar voluntariamente para tratamento. As "clínicas" seriam comunidades autosustentáveis estabelecidas no campo.

Não havia grande rejeição social aos usuários, nem a sociedade em geral sentia-se prejudicada. Fumava-se em qualquer lugar público: ruas, praças, estádios, até no cinema. Havia sim condenação social ao traficante. Acontecia que usuários afugentassem ou até agredissem vendedores nas portas de escolas e colégios. Não lembro de outras manifestações violentas que possam ser atribuídas diretamente a usuários da tal "droga maldita".
Foto Wikipedia

A cultura dos usuários estabelecia próprias leis e costumes: quem tinha, convidava. Se não tinha, não tinha mesmo para ninguém. No máximo, havia escambo com o camponés, quem geralmente se contentava com roupas usadas.
Me esforço, mas não consigo lembrar crimes relacionados com usuários, em uma época violenta, quando a política e o uso de álcool produziam vítimas diárias.
Depois do sangrento golpe do Pinochet (salvei a vida por ter viajado) as coisas mudaram: foram adotadas as diretrizes amerikanas. O resultado: tráfico, violência, um monte de gente comum e normal convertida em criminosos, perseguidos, enchendo presídios a custa do erário público (léia-se: dos contribuintes). Sem falar de tantos outros complicadores que afetam a sociedade.
E todo esse depoimento a troca de que?
Excelentíssimo Senhor Sérgio Cabral, Governador do Rio de Janeiro: este humilde bloguista-blogueiro apóia sua postura frente ao assunto tratado.
Para informação mais completa pode ler o livro "Maconha", escrito pelo Deputado Federal Fernando Gabeira.

Um comentário:

Anônimo disse...

grande iniciativa e grande blog, o que dizer? o potencial humano de emancipação é cada vez maior, isso da aflição: ver a vida se perdendo pelo ralo da mais-valia, pelo suborno do dia-dia alienado e violento. o caso das drogas, por exemplo, concordo com vc, é de imensa estupidez a proibição. mas basta um olhar mais atento que vemos que sua proibição está servindo mais é para os grandes do mundo e nao pros laranjas das favelas. parece-me que o movimento de economia que gera com as drogas é dos 3 maiores do mundo. e que mundo é esse, os dois outros parecem ser as armas e a protituição. loucura? pior que isto parce ser bem pensado por alguns "manda-chuvas"!
mas é isso, linda uma aplicação de vida neste blog, que sejam sementes com frutos, feito o canto dos canarios.
valeu ernesto, por esta constante lição de vida que é sua com-vivencia!!!
abraços,
Daniel